A sociedade contemporânea tem sido classificada como a sociedade do estresse. O incessante ritmo da globalização, as constantes alterações tecnológicas, as rotineiras mudanças e “imposições” sociais ditadas pela mídia e pela moda, assim como a progressiva requisição de qualidade nos produtos e serviços exigidos pelo nosso atual modelo social têm impelido boa parte das pessoas a um estado de perplexidade e impotência frente a tais circunstâncias da vida. Para alguns indivíduos, a aquisição de um corpo que se enquadre dentro dos modelos eleitos pela sociedade passa a ser uma obrigação; para outros, a conquista de status profissional é um pré-requisito para a felicidade. Dependendo da intensidade de nossa cobrança, tais desejos podem produzir emoções desastrosas. Ninguém está a salvo das possíveis garras do estresse, e entre suas potenciais vítimas encontramse os professores, quer sejam do ensino básico, fundamental, médio ou universitário. Todavia, antes de versar sobre esta população em especial, é prudente definir melhor o que vem a ser estresse.
Estresse na escolaO estresse é um fenômeno biológico comum e conhecido por todos nós através de nossas experiências. Em sua etimologia o verbete estresse tem como sinônimo o termo “strain” e remonta às origens das línguas indo-europeias. No grego antigo, era a raiz de “strangale” e do verbo “strangaleuin” que significa estrangular. Em latim, a raiz formou o verbo “stringere” que significa apertar. Logo, as raízes do estresse remetem à ideia do empenho de forças fundamentalmente contrárias.
Qualquer pessoa que se dispuser a fazer uma pesquisa na internet ou nas bases especializadas em publicações científicas ficará surpreso com a enorme quantidade de pesquisas que apontam a presença de estresse em professores. Algumas delas afirmam que 50% dos profissionais da educação apresentam sintomas associados às diversas fases do estresse, inclusive a de exaustão. Logo, o professor tem sido apontado como uma das maiores vítimas do estresse profissional, mais conhecido como Síndrome de Burnout. Esta síndrome caracteriza-se por um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional e é causada por circunstâncias concernentes às atividades profissionais, ocasionando sintomas físicos, afetivos, cognitivos e comportamentais. Inicialmente esta síndrome foi observada em cuidadores da área da saúde que desempenhavam função assistencial. A necessidade de doar-se intensamente a pessoas em situação de necessidade e dependência minava a saúde daquele que zelava por ela. Com o passar do tempo, a Síndrome de Burnout foi identificada em outras profissões, entre elas a de professor.
São inúmeras as causas do estresse profissional do professor: mudanças constantes de currículo; insegurança profissional; incerteza de obter aulas a cada novo semestre; acúmulo de funções que outrora eram realizadas pelas secretarias e por gestores especializados e, sobretudo, falta de reconhecimento. A desvalorização da profissão de professor pelo corpo discente ou pela própria sociedade é um dos maiores responsáveis por este distúrbio. A sensação de impotência do professor pode chegar a extremos, quando este se depara com problemas que não dependem apenas de sua ação para serem resolvidos, principalmente aqueles relativos à degradação do sistema educacional.
Alguns professores ainda afirmam ser bastante desgastante encontrar equilíbrio suficiente para mediar a relação entre os alunos. Sob estresse, ansiedade e muitas vezes quadros de depressão, é bastante penoso chamar a atenção, interromper a aula, motivar os alunos, intermediar conflitos etc. Curiosamente, a Síndrome de Burnout atinge professores motivados, que reagem a este desequilíbrio empenhando-se ainda mais. A desproporcionalidade entre o empenho do professor e os resultados obtidos por este reforça ainda mais sua frustração.
Contudo, e apesar de toda a gama de pesquisas que apontam para a existência deste problema, a solução não pode ficar somente a cargo das instituições de ensino. O estresse é um fato que atinge a todos nós e, portanto, cabe a cada indivíduo treinar habilidades para o gerenciamento de danos, obtenção de níveis mais satisfatórios de autocontrole, de identificação de pensamentos negativos, e de utilização de apoio social para esta finalidade. Estes são os primeiros passos e algumas das alternativas para conviver e se adaptar aos novos tempos na busca pelo bem-estar e melhor qualidade de vida.
Entre os principais sintomas do estresse destacam-se dificuldade de concentração, dores de cabeça e musculares, fadiga, ansiedade e depressão. Outro agravante são os problemas associados ao sono. Durante o processo do dormir ocorrem modificações fisiológicas e comportamentais importantíssimas que interferem nos processos cognitivos e de aprendizagem.
Passos para a superação
Existem contundentes evidências de que o estilo de vida individual e a forma como respondemos às situações rotineiras são em grande parte advindos de um conjunto de crenças, valores e atitudes que se refletem em nossos hábitos cotidianos, ou seja, em nosso padrão de comportamento. Nossos modelos mentais, a forma como observamos e interpretamos o mundo à nossa volta pode ter um elevado impacto sobre a saúde em geral, determinando para a grande maioria das pessoas, o quão doentes ou saudáveis serão em médio e longo prazos. Em resumo, é em face da forma como interpretamos o mundo que surgirão os reflexos positivos ou negativos em nossa qualidade de vida não só atual, mas principalmente na velhice.
Inúmeras práticas atreladas ao campo da medicina comportamental e da psicofisiologia aplicada podem influenciar nosso comportamento diante dos problemas, afetando assim as respostas do organismo frente aos potenciais agentes estressores. O simples ato de participar de cursos ou palestras que atentem para a identificação consciente de nossos estados emocionais inadequados já pode ser um potente deflagrador de mudanças de hábitos limitantes e potencialmente geradores de estresse.
As técnicas de gerenciamento de estresse e de emoções destrutivas contemplam inúmeras etapas.
A primeira etapa é a identificação do nível de estresse que o professor se encontra. A segunda etapa é a identificação dos fatores que originam o estado indesejado. Ambas podem ser feitas por meio do preenchimento de questionários comportamentais aplicados por um profissional da área que facilite o reconhecimento dos fatores geradores de estresse. A terceira etapa é a escolha de um instrumento de medicina comportamental que objetive a eliminação de hábitos limitantes e a solidificação de novos e benéficos comportamentos. Isso deve ser feito levando em consideração as características pessoais.
A compreensão dos mecanismos associados ao estresse geralmente é mais bem assimilada depois da identificação de que seu comportamento é fundamentado nas bases estruturais do seu cérebro. Entendendo que o cérebro é passível de mudança assim como um músculo pode crescer depois de determinados exercícios, fica mais fácil compreender que é possível alterar voluntariamente percepções, sentimentos e emoções e os benefícios das técnicas da medicina comportamental são obtidos com mais facilidade. Essas técnicas são destinadas ao gerenciamento pleno e consciente do estresse, e são originadas de várias escolas filosóficas e psicológicas. Praticar meditação (atualmente conhecida com manutenção da atenção plena – mindfulness), realizar sessões de biofeedback ou participar de sessões de Coaching Ontológico são tentativas de manipulações de nossos estados emocionais. Tais práticas têm sido investigadas pela ciência e são comprovadamente eficazes em uma grande parcela de indivíduos.
50% dos profissionais da educação, aproximadamente, apresentam sintomas associados às diversas fases do estresse, inclusive a de exaustão. A desvalorização da profissão tanto pelo corpo discente como pela própria sociedade é um dos maiores responsáveis por este distúrbio.
Técnicas antiestresse
O estudo dos fenômenos mentais, dentre eles os produzidos por meio das práticas de mindfulness já é parte integrante dos interesses da neurociência e pode ser apreciado em grande quantidade de pesquisas científicas. É possível exercitar-se mantendo a atenção em sons, posturas corporais, imagens, pensamentos, ideais e até mesmo sensações. As pesquisas realizadas com praticantes de atenção plena demonstram inúmeras alterações fisiológicas e psicológicas. Sendo assim, a meditação tem sido indicada como auxílio complementar no tratamento de indivíduos portadores de várias patologias, entre elas o estresse, a ansiedade, a depressão, os distúrbios do sono, entre outros.
O Coaching, apesar de relativamente recente, já apresenta uma vasta literatura científica que comprova sua ampla aplicabilidade. Coaching é um processo de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal que possibilita um aumento de desempenho e implementação de ações que aproximem o cliente de seus objetivos.
Esta parceria baseia-se no conceito de que temos o potencial para solucionar nossos próprios problemas, cabendo ao profissional contratado (coach) utilizar técnicas comprovadamente eficazes na mobilização comportamental do cliente, possibilitando que ele tome contato com seus hábitos e pensamentos automáticos que são, muitas vezes, autossabotadores e descubra suas potencialidades para auxiliá-lo a determinar o que, onde, como e quando gostaria de realizar em sua vida. Esta técnica tem sido exaustivamente aplicada em diversos setores, tais como o empresarial, a saúde e o educacional. Na área da saúde encontram-se diversas publicações que atestam os benefícios do Coaching.
A terapia por biofeedback tem sido intensamente pesquisada há mais de quarenta anos. Biofeedback é uma palavra que deriva da união de outras três: bios (do grego “vida”), feed (do inglês “alimentar”) e back (também do inglês “retorno ou volta”). De uma forma simplificada, o biofeedback é um instrumento que usa eletrodos de superfície com o intuito de conceder à pessoa uma visualização de suas próprias alterações orgânicas (frequência cardíaca, taxa de sudorese, atividade elétrica cerebral). Paralelamente, técnicas de relaxamento e concentração são ensinadas para que a pessoa, ao realizálas, perceba que as mesmas influenciam as variáveis fisiológicas monitoradas pelo equipamento. Essa percepção serve como um reforço positivo que facilita o aprendizado do controle das manifestações orgânicas associadas ao estresse e ansiedade.
As bases de dados científicas ligadas à área da saúde contemplam inúmeras pesquisas que apresentaram resultados positivos, tais como a utilização do biofeedback para redução de estresse em pacientes portadores de hipertensão arterial, para gerenciamento e redução de dores de cabeça crônicas, para tratamento de portadores de transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade – TDAH – crianças, adolescentes e adultos, para aumentar os processos de criatividade e performance, assim como para controlar distúrbios afetivos a ansiedade.
Qualidade de vida é um constructo muito subjetivo e de percepção individual, ou seja, ela difere de pessoa para pessoa. No entanto, o seu conceito geral, envolve: estado de saúde, longevidade, satisfação no trabalho/ estudo, perspectivas e oportunidades de um bom salário, emprego, lazer e até espiritualidade. Esta última não esta necessariamente atrelada ao âmbito da religião, e sim de identificação de talentos, valores de vida e missão, o que por fim pode conceder certo sentido a nossa vida. Por meio do envolvimento ativo com tais técnicas pode ser possível ao ser humano e ao professor em particular ressignificar as pressões do meio ambiente, concedendolhes diferentes pesos e valores, com intuito último de adquirir uma plena estabilidade emocional durante os períodos de crises da vida.
O estresse atinge a todos nós. Cabe a cada indivíduo treinar habilidades para o gerenciamento de danos, obtenção de níveis mais satisfatórios de autocontrole, de identificação de pensamentos negativos, e de utilização de apoio social para esta finalidade.
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