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quinta-feira, 10 de março de 2011

Gerenciamento de estresse em professores

Por Marcello Árias Dias Danucalov

A sociedade contemporânea tem sido classificada como a sociedade do estresse. O incessante ritmo da globalização, as constantes alterações tecnológicas, as rotineiras mudanças e “imposições” sociais ditadas pela mídia e pela moda, assim como a progressiva requisição de qualidade nos produtos e serviços exigidos pelo nosso atual modelo social têm impelido boa parte das pessoas a um estado de perplexidade e impotência frente a tais circunstâncias da vida. Para alguns indivíduos, a aquisição de um corpo que se enquadre dentro dos modelos eleitos pela sociedade passa a ser uma obrigação; para outros, a conquista de status profissional é um pré-requisito para a felicidade. Dependendo da intensidade de nossa cobrança, tais desejos podem produzir emoções desastrosas. Ninguém está a salvo das possíveis garras do estresse, e entre suas potenciais vítimas encontramse os professores, quer sejam do ensino básico, fundamental, médio ou universitário. Todavia, antes de versar sobre esta população em especial, é prudente definir melhor o que vem a ser estresse.

Estresse na escolaO estresse é um fenômeno biológico comum e conhecido por todos nós através de nossas experiências. Em sua etimologia o verbete estresse tem como sinônimo o termo “strain” e remonta às origens das línguas indo-europeias. No grego antigo, era a raiz de “strangale” e do verbo “strangaleuin” que significa estrangular. Em latim, a raiz formou o verbo “stringere” que significa apertar. Logo, as raízes do estresse remetem à ideia do empenho de forças fundamentalmente contrárias.

Qualquer pessoa que se dispuser a fazer uma pesquisa na internet ou nas bases especializadas em publicações científicas ficará surpreso com a enorme quantidade de pesquisas que apontam a presença de estresse em professores. Algumas delas afirmam que 50% dos profissionais da educação apresentam sintomas associados às diversas fases do estresse, inclusive a de exaustão. Logo, o professor tem sido apontado como uma das maiores vítimas do estresse profissional, mais conhecido como Síndrome de Burnout. Esta síndrome caracteriza-se por um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional e é causada por circunstâncias concernentes às atividades profissionais, ocasionando sintomas físicos, afetivos, cognitivos e comportamentais. Inicialmente esta síndrome foi observada em cuidadores da área da saúde que desempenhavam função assistencial. A necessidade de doar-se intensamente a pessoas em situação de necessidade e dependência minava a saúde daquele que zelava por ela. Com o passar do tempo, a Síndrome de Burnout foi identificada em outras profissões, entre elas a de professor.

São inúmeras as causas do estresse profissional do professor: mudanças constantes de currículo; insegurança profissional; incerteza de obter aulas a cada novo semestre; acúmulo de funções que outrora eram realizadas pelas secretarias e por gestores especializados e, sobretudo, falta de reconhecimento. A desvalorização da profissão de professor pelo corpo discente ou pela própria sociedade é um dos maiores responsáveis por este distúrbio. A sensação de impotência do professor pode chegar a extremos, quando este se depara com problemas que não dependem apenas de sua ação para serem resolvidos, principalmente aqueles relativos à degradação do sistema educacional.

Alguns professores ainda afirmam ser bastante desgastante encontrar equilíbrio suficiente para mediar a relação entre os alunos. Sob estresse, ansiedade e muitas vezes quadros de depressão, é bastante penoso chamar a atenção, interromper a aula, motivar os alunos, intermediar conflitos etc. Curiosamente, a Síndrome de Burnout atinge professores motivados, que reagem a este desequilíbrio empenhando-se ainda mais. A desproporcionalidade entre o empenho do professor e os resultados obtidos por este reforça ainda mais sua frustração.

Contudo, e apesar de toda a gama de pesquisas que apontam para a existência deste problema, a solução não pode ficar somente a cargo das instituições de ensino. O estresse é um fato que atinge a todos nós e, portanto, cabe a cada indivíduo treinar habilidades para o gerenciamento de danos, obtenção de níveis mais satisfatórios de autocontrole, de identificação de pensamentos negativos, e de utilização de apoio social para esta finalidade. Estes são os primeiros passos e algumas das alternativas para conviver e se adaptar aos novos tempos na busca pelo bem-estar e melhor qualidade de vida.

Entre os principais sintomas do estresse destacam-se dificuldade de concentração, dores de cabeça e musculares, fadiga, ansiedade e depressão. Outro agravante são os problemas associados ao sono. Durante o processo do dormir ocorrem modificações fisiológicas e comportamentais importantíssimas que interferem nos processos cognitivos e de aprendizagem.

Passos para a superação

Existem contundentes evidências de que o estilo de vida individual e a forma como respondemos às situações rotineiras são em grande parte advindos de um conjunto de crenças, valores e atitudes que se refletem em nossos hábitos cotidianos, ou seja, em nosso padrão de comportamento. Nossos modelos mentais, a forma como observamos e interpretamos o mundo à nossa volta pode ter um elevado impacto sobre a saúde em geral, determinando para a grande maioria das pessoas, o quão doentes ou saudáveis serão em médio e longo prazos. Em resumo, é em face da forma como interpretamos o mundo que surgirão os reflexos positivos ou negativos em nossa qualidade de vida não só atual, mas principalmente na velhice.
Inúmeras práticas atreladas ao campo da medicina comportamental e da psicofisiologia aplicada podem influenciar nosso comportamento diante dos problemas, afetando assim as respostas do organismo frente aos potenciais agentes estressores. O simples ato de participar de cursos ou palestras que atentem para a identificação consciente de nossos estados emocionais inadequados já pode ser um potente deflagrador de mudanças de hábitos limitantes e potencialmente geradores de estresse.

As técnicas de gerenciamento de estresse e de emoções destrutivas contemplam inúmeras etapas.
A primeira etapa é a identificação do nível de estresse que o professor se encontra. A segunda etapa é a identificação dos fatores que originam o estado indesejado. Ambas podem ser feitas por meio do preenchimento de questionários comportamentais aplicados por um profissional da área que facilite o reconhecimento dos fatores geradores de estresse. A terceira etapa é a escolha de um instrumento de medicina comportamental que objetive a eliminação de hábitos limitantes e a solidificação de novos e benéficos comportamentos. Isso deve ser feito levando em consideração as características pessoais.

A compreensão dos mecanismos associados ao estresse geralmente é mais bem assimilada depois da identificação de que seu comportamento é fundamentado nas bases estruturais do seu cérebro. Entendendo que o cérebro é passível de mudança assim como um músculo pode crescer depois de determinados exercícios, fica mais fácil compreender que é possível alterar voluntariamente percepções, sentimentos e emoções e os benefícios das técnicas da medicina comportamental são obtidos com mais facilidade. Essas técnicas são destinadas ao gerenciamento pleno e consciente do estresse, e são originadas de várias escolas filosóficas e psicológicas. Praticar meditação (atualmente conhecida com manutenção da atenção plena – mindfulness), realizar sessões de biofeedback ou participar de sessões de Coaching Ontológico são tentativas de manipulações de nossos estados emocionais. Tais práticas têm sido investigadas pela ciência e são comprovadamente eficazes em uma grande parcela de indivíduos.

50% dos profissionais da educação, aproximadamente, apresentam sintomas associados às diversas fases do estresse, inclusive a de exaustão. A desvalorização da profissão tanto pelo corpo discente como pela própria sociedade é um dos maiores responsáveis por este distúrbio.

Técnicas antiestresse

O estudo dos fenômenos mentais, dentre eles os produzidos por meio das práticas de mindfulness já é parte integrante dos interesses da neurociência e pode ser apreciado em grande quantidade de pesquisas científicas. É possível exercitar-se mantendo a atenção em sons, posturas corporais, imagens, pensamentos, ideais e até mesmo sensações. As pesquisas realizadas com praticantes de atenção plena demonstram inúmeras alterações fisiológicas e psicológicas. Sendo assim, a meditação tem sido indicada como auxílio complementar no tratamento de indivíduos portadores de várias patologias, entre elas o estresse, a ansiedade, a depressão, os distúrbios do sono, entre outros.

O Coaching, apesar de relativamente recente, já apresenta uma vasta literatura científica que comprova sua ampla aplicabilidade. Coaching é um processo de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal que possibilita um aumento de desempenho e implementação de ações que aproximem o cliente de seus objetivos.

Esta parceria baseia-se no conceito de que temos o potencial para solucionar nossos próprios problemas, cabendo ao profissional contratado (coach) utilizar técnicas comprovadamente eficazes na mobilização comportamental do cliente, possibilitando que ele tome contato com seus hábitos e pensamentos automáticos que são, muitas vezes, autossabotadores e descubra suas potencialidades para auxiliá-lo a determinar o que, onde, como e quando gostaria de realizar em sua vida. Esta técnica tem sido exaustivamente aplicada em diversos setores, tais como o empresarial, a saúde e o educacional. Na área da saúde encontram-se diversas publicações que atestam os benefícios do Coaching.

A terapia por biofeedback tem sido intensamente pesquisada há mais de quarenta anos. Biofeedback é uma palavra que deriva da união de outras três: bios (do grego “vida”), feed (do inglês “alimentar”) e back (também do inglês “retorno ou volta”). De uma forma simplificada, o biofeedback é um instrumento que usa eletrodos de superfície com o intuito de conceder à pessoa uma visualização de suas próprias alterações orgânicas (frequência cardíaca, taxa de sudorese, atividade elétrica cerebral). Paralelamente, técnicas de relaxamento e concentração são ensinadas para que a pessoa, ao realizálas, perceba que as mesmas influenciam as variáveis fisiológicas monitoradas pelo equipamento. Essa percepção serve como um reforço positivo que facilita o aprendizado do controle das manifestações orgânicas associadas ao estresse e ansiedade.

As bases de dados científicas ligadas à área da saúde contemplam inúmeras pesquisas que apresentaram resultados positivos, tais como a utilização do biofeedback para redução de estresse em pacientes portadores de hipertensão arterial, para gerenciamento e redução de dores de cabeça crônicas, para tratamento de portadores de transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade – TDAH – crianças, adolescentes e adultos, para aumentar os processos de criatividade e performance, assim como para controlar distúrbios afetivos a ansiedade.
Qualidade de vida é um constructo muito subjetivo e de percepção individual, ou seja, ela difere de pessoa para pessoa. No entanto, o seu conceito geral, envolve: estado de saúde, longevidade, satisfação no trabalho/ estudo, perspectivas e oportunidades de um bom salário, emprego, lazer e até espiritualidade. Esta última não esta necessariamente atrelada ao âmbito da religião, e sim de identificação de talentos, valores de vida e missão, o que por fim pode conceder certo sentido a nossa vida. Por meio do envolvimento ativo com tais técnicas pode ser possível ao ser humano e ao professor em particular ressignificar as pressões do meio ambiente, concedendolhes diferentes pesos e valores, com intuito último de adquirir uma plena estabilidade emocional durante os períodos de crises da vida.

O estresse atinge a todos nós. Cabe a cada indivíduo treinar habilidades para o gerenciamento de danos, obtenção de níveis mais satisfatórios de autocontrole, de identificação de pensamentos negativos, e de utilização de apoio social para esta finalidade.

quarta-feira, 9 de março de 2011

As Tecnologias da Inteligência de Pierre Lévy: O futuro do pensamento na era da informática

Pierre Lévy é um filósofo judeu especialista na teoria da inteligência coletiva e precursor da Cibercultura, foi um dos primeiros a discutir temas. Seu primeiro livro, foi “As Tecnologias da Inteligência” lançado em 1992, Lévy fala sobre diversos conceitos, desde o surgimento de um novo formato textual, o Hipertexto, onde ele apresenta sua definição e como é empregado, além do impacto social que o computador e suas tecnologias inteligentes causaram na sociedade, desde assuntos como a Ecologia Cognitiva e o Coletivo Inteligente.
Lévy, divide o seu livro As Tecnologias da Inteligência de Pierre Lévy: O futuro do pensamento na era da informática,em cinco partes e em seguida discorre sobre as mesmas que são elas:
1. O hipertexto, nova modalidade textual na era digital;
2. O computador pessoal, o groupware e a política sócio técnica;
3. Estudo das funções cognitivas e do tempo digital;
4. Nova oralidade da rede digital e ecologia cognitiva;
5. Inteligência coletiva

1. Hipertexto
Na primeira parte do livro “As Tecnologias da Inteligência”, Pierre Lévy explica que na comunicação a informação se precisa através do contexto e do sentido. Eles se interagem, tendo como preceito que o contexto é construído a partir do sentido e o sentido emerge a partir do contexto, que é através deles que temos “lances decisivos no jogo de interpretação e da construção de realidade”. (LÉVY, 1992)
O autor nos diz que o método de comunicação que busca analisar, então, é exatamente o hipertextual. Lévy diz que a mente humana não segue um sentido linear de cognição, quando uma informação lhe é atribuída.
“Quando ouço uma palavra, isto ativa imediatamente em minha mente uma rede de outras palavras, de conceitos, de modelos, mas também de imagens, sons, (…). Mas apenas os nós selecionados pelo contexto serão ativados com força suficiente em nossa consciência.” (PIERRE LÉVY, 1992, p.23)
Sendo que a direção dessa que é dada a esse caminho e o fluxo cognitivo, então, é o contexto que “designa portanto a configuração de ativação de uma grande rede semântica” (LÉVY,1992). A essa grande rede semântica, o autor a define como hipertexto. Para melhor entendimento dessa rede semântica, o autor classificá-la, nomear seis princípios básicos:

Principio de metamorfose
O hipertextuo sempre mudando, sempre resignificando.
Principio de heterogeneidade
Os nós e conexões da rede hipertextual serão heterogêneos, aqui eles poderão assumir diversas formas, como imagens, sons, palavras, e modelos.
· Principio de multiplicidade e de encaixe das escalas
Uma construção textual será ligada a uma rede de outros textos de modo fractal, em progressão geométrica.
· Principio de exterioridade
Os caminhos escolhidos em um hipertexto são de origem externa ao texto, ou seja, vem de seu usuário.
· Principio de tipologia
Os meios compostos por hipertextos interligados são similares e vizinhos, ou seja, tem de ser compatíveis. Por exemplo, um texto de um livro não é comumente ligado a um texto de internet.
· Principio da modalidade dos centros
Lévy, nos afirma que a rede hipertextual não possui centros, cada texto, cada som, cada imagem que estão interligados possui um centro de significância próprio.
Sendo assim, o autor passa, então, a relatar que idéias de emprego do método hipertextuais só começaram a surgir a partir de 1945 com os estudos de Vanevar Bush e de Theodor Nelson. Segundo o autor, Bush, insatisfeito com os sistemas de indexação e organização de informações que seguem uma única rubrica, puramente hierárquica e linear, idealiza um dispositivo que se chamaria Memex e que facilitaria a integração rápida de informações textuais onde uma palavra se transformaria em outro texto escrito. Esses milhares de textos estariam miniaturizados em imagens de vídeo e poderiam ser vistos por uma tela com auto falantes. Anos mais tarde, década de 70, Nelson desenvolve ainda mais esse conceito, idealizando uma biblioteca de suporte digital, que conteria todas as informações textuais sonoras e imagéticas da sociedade, que se chamaria Xanadu. Nela poderia se escrever, interconectar, interagir, comentar os textos, filmes e gravações sonoras disponíveis na rede etc. o autor diz ainda que a idealização desses dispositivos e suportes hipertextuais para época não poderiam existir, contudo atualmente temos diversos veículos interconectados na rede da Web, que possuem essas características. O texto segue nesse pensamento.
O autor falar também que logo no começo da década de 90, haviam apenas dois veículos motriz do hipertexto digital como é apresentado, esses eram o computador e o Compact Disc digital ou CD-ROM. Pelo computador, o mouse seria a ferramenta principal que através do clique transporia uma interface para outra, sempre tendo a opção de dupla visualização entre interfaces. Já o CD-ROM poderia se transfigurar se pensarmos no hipertexto em uma rede ou uma imagem de intercomunicação de informações portadas em diversos meios. A hipermídia poderia conter um software de uma enciclopédia, por exemplo, com interação automática e que interagisse não só com o escrito, mas também, ou talvez principalmente, com o Audiovisual. Pierre Lévy ainda comenta a importância da mídia audiovisual na composição do hipertexto, e como esse é uma tendência de valorização textual nos dias de hoje, às vezes mais que o próprio escrito.
Tendo em vista que já estamos caracterizando o hipertexto como um modelo tipicamente para o digital, mesmo sabendo que livros, revistas, jornais e outros impressos ou outras construções de informação também podem ser classificados como tal; podemos então caracterizar que o suporte informático possui como principal interface a tela gráfica de alta resolução, e tem como ferramentas o mouse, representações icônicas ou diagramáticas em hiperlink e por vezes um Menu, para organizar o caos da disposição hipertextual. Mas sobre essas ditas condições Lévy faz algumas considerações:
“Leitores laser miniaturizados e tela planas ultraleves tornarão estes hipertextos tão fáceis de consultar na cama ou no metro quanto um romance policial.” (PIERRE LÉVY,1992,p.36)


2. O computador pessoal, o Groupware e a política sócio técnica
Segundo o autor, o computador existe desde a década de 50, porém só foi se difundir como um instrumento, ou mesmo uma cultura de massa apos os anos 70, quando um grupo de jovens americanos, localizados no sul da Califórnia, na cidade de Stanford em uma região conhecida hoje como o Vale do Silício, resolveu desenvolver o Computador pessoal.
Influenciados pela Contra- Cultura, idealismo pregado nos Estados Unidos naquela época, pelas diversas experiências de troca de informações ricas do contexto da universidade da cidade e do fácil contato com todo tipo de tecnologia e aparelhagem, que era desenvolvido na época por entidades como a NASA e a INTEL, os jovens Steve Jobs e Steve Wozniac foram pioneiros no desenvolvimento da máquina em porte domestico, o Macintosh. Passaram por diversos experimentos e melhorias, criando uma interface em cima da outra, tiveram a idéia de transmitir a imagem das operações imediatamente à ligação do aparelho através de uma tela com raios catódicos, permitindo a melhor, mais facilitada e mais pratica utilização.
O autor relata ainda no seu livro que “O Macintosh reuniu outras características de interface que remetem umas as outras, redefinem-se e valorizam-se mutuamente, como os textos e imagens interconectados de um hipertexto.” (LÉVY,1992).
Apesar disso, o autor também diz que o que se desprende de mais interessante do texto, é a revolução social causada pela tirada do poder tecnológico e de cálculo das mãos do Estado, do Exercito e dos monstros burocráticos das empresas corporativistas e passada as mãos da população civil. Isso leva a outro tipo de discussão sobre o papel e emprego dessa tecnologia e das pessoas que a desenvolve na construção de uma nova sociedade.
Lêvy chama atenção então para um pesquisador da Universidade de Stanford Douglas Engelbart, para assim poder teorizar sobre um veiculo de sinergia operacional que ligasse o homem com a máquina e esta novamente com o homem chamado Groupware, mas primeiramente discute sobre as implicações sociais da informática e das pessoas que a desenvolvem.
Relata também, que atualmente existe um veículo de transmissão de informação vinculado a rede da WEB que chega mais perto desse conceito que é a enciclopédia digital da Wikipédia, que possui a política de que ela deve ser construída, editada e revisada pelos próprios utilitários interconectados pela rede e pelo veículo.
ESTUDO DAS FUNÇÕES COGNITIVAS E DO TEMPO DIGITAL
3. As oralidades e a memória
Na segunda parte do livro o autor se propõe a fazer uma descrição geral das técnicas contemporâneas de comunicação e processamento de informação por computador. Contudo primeiro faz um estudo sobre algumas características cognitivas coletivas inerentes a sociedade humana.
Lévy diz que existiam, antes da era da informática, dois tipos de sociedade, uma mais arcaica que se estruturava a partir da Oralidade primaria, e outra mais moderna baseada na oralidade secundária. Oralidade primária seria a que remete ao papel da palavra falada antes do advento da escrita;
“(…) a palavra tem como função básica a gestão da memória social, e não apenas a livre expressão das pessoas ou a comunicação prática cotidiana” (LÉVY,1992).
Pierre Lévy afirma que nessa sociedade, a inteligência ou a sabedoria estaria particularmente relacionada com a memória sobre o conhecimento que era passado de forma oral através de uma relação mais íntima entre indivíduos na construção de uma tradição. A forma de armazenamento dessas informações ou conhecimentos, como já dito, é a memória, por isso é preciso entender um pouco de seu funcionamento, para isso Lévy escolhe uma analise segundo a ordem da psicologia cognitiva.
Claro que a memória de um ser humano funciona de forma muito diferente a de um equipamento de armazenamento digital, que por vezes traz a recuperação fiel das informações guardadas. Já a nossa mente não, essas informações chegam através de dois veículos:
· A memória de curto prazo que está relacionada com a atenção do ouvinte, que tentará reter uma informação durante um curto espaço de tempo para sua rápida utilização.
· A memória de longo prazo, essa mais complexa que a primeira, que funciona com o armazenamento de informações em uma única e imensa rede associativa que deverá contê-la durante um grande período de tempo.
O autor fala que, as sociedades orais, desenvolveram um método de conseguir garantir a eficiência da memória de longo prazo. Onde Lévy chama esse método, ou estratégia, de Elaboração. Já que ela permitiria que a informação fosse condensada e associada a uma rede com grande numero de conexões, partindo para uma forma de compreensão através de sua representação.
Esse método se caracterizaria pela construção de um elemento narrativo que contenha todos os ensinamentos visados, o chamado Mito ou Fabula.
“Dramatização, personificação e artifícios narrativos diversos não visam apenas dar prazer ao espectador. Eles são também condições sine qua non da perenidade de um conjunto de preposições em uma cultura oral.” (PIERRE LÉVY,1992,p.82)
O autor não caracteriza essa forma de armazenamento de informação, menos válida do que a proposta pela sociedade da escrita. Lévy diz ainda que “os mitos são as melhores formas de codificação disponíveis, pois são reiterados e preservados pela tradição, sua própria estrutura captura “ (…) em uma espécie de devir imemorial, ao mesmo tempo único e repetitivo”.
Que a oralidade secundária está relacionada à escrita. A sociedade estruturada a partir dela tinha uma vantagem no armazenamento de informação, que era o fato de terem uma estrutura física guardando-a por meio de caracteres simbólicos. O que se torna então importante de se pensar como uma evolução social foi que:
“ (…) o alfabeto e a impressão, aperfeiçoamentos da escrita, desempenharam um papel essencial no estabelecimento da ciência como modo de conhecimento dominante” (LÉVY,1992).
Entretanto, a essa oralidade secundária, ou escrita, possui uma serie de dificuldades na construção de um coletivo inteligente, já que à partir da tradição hermenêutica da comunicação puramente escrita, era eliminado o relacionamento humano no contexto que se adaptava e traduzia mensagens de outro tempo e lugar. Que a escrita provoca o desenvolvimento de saberes teóricos que separam o emissor do receptor atrapalhando a construção de um hipertexto comum. Outro problema seria que a escrita, tendo uma estrutura de armazenamento que se aproxima no conceito da memória de curto prazo, poderia definhar nossa capacidade de cognição em longo prazo, o que acabaria com o uso da oralidade tradicional.
4. Nova oralidade da rede digital
Nota-se então, que com o computador pessoal, a informática teve o suporte para se tornar uma cultura de massa. Essa cultura amarrada pela digitalização, ou seja, transformação de informação em dados a partir da codificação em sinais binários que serão armazenados, reconhecidos pelo equipamento e mostrados na tela de forma inteligível.
Lévy então diz que “(…) a digitalização conecta no centro de um mesmo tecido eletrônico o cinema, o radio, a televisão, o jornalismo, a edição, a musica, as telecomunicações e a informática.” (LÉVY,1992)
Aqui então passa Lévy a discorrer sobre as plataformas que comportaram os sons e as imagens nessa rede hipermídiática que surge com a computação. Elas seriam, segundo ele, o CD-ROM que, como vimos, seria uma plataforma fixa que comportaria a imagem digital, o audiovisual (Vídeo digital), o hipertexto, os samplers (síntese do som), e os possíveis geradores de programa; a outra seria a RDSI (rede digital de serviços integrados), um terminal inteligente de interatividade entre diferentes aparelhos, que armazenaria e interligaria, além das interfaces visuais, também as sonoras, as hipertextuais, também faria uma seleção inteligente de informações. O RDSI é o mais perto, teoricamente, Web da internet.
Outra característica presente na oralidade digital segundo o autor é a capacidade de simulação. Segundo Lévy “Um modelo digital não é lido ou interpretado como um texto clássico, ele geralmente é explorado de forma interativa” (LÉVY,1992). O conhecimento por simulação não se assemelha ao teórico nem ao pratico, pois ele cria um ambiente que simula a atividade intelectual antes da exposição racional.
ECOLOGIA COGNITIVA E INTELIGENCIA COLETIVA
5. Definição e desconstrução do individual

Na terceira e última parte de seu livro, Pierre Lévy procura estudar ecologia cognitiva e o inteligente coletivo.
Começando pela definição dada por ele, “A ecologia cognitiva é o estudo das dimensões técnicas e coletivas da cognição”. Sendo os dispositivos técnicos, parte integrante da desconstrução do individuo e a formação da coletividade. Sobre a desconstrução do indivíduo devemos entender primeiro que a inteligência é o resultado de uma rede onde se interligam fatores biológicos sentimentais e tecnológicos. No contexto tecnológico o que Lévy propõem então é a construção de um meio em que:
“Não há mais sujeito ou substância pensante, nem “material”, nem “espiritual”. O pensamento se dá em uma rede na qual neurônios, módulos cognitivos, humanos, instituições de ensino, línguas, sistema de escrita e computadores se interconectam, transformam e traduzem representações.” (PIERRE LÉVY, 1992,p.135)
Segundo o autor, um desses meios é o cultural, onde as cognições, atitudes e idéias partem da construção do coletivo e não do individuo. Os outros meios seriam os meios tecnológicos inteligentes que fizessem a simbiose entre o homem e a máquina e está com a máquina novamente. Porém antes da criação dessa principal interface é necessário garantir uma tecnodemocracia, ou seja, as relações homem com homem devem se tornar homogêneas se não o circuito da rede não irá alcançar qualquer tipo de avanço.
Pierre Lévy, faz nessa obra um panorama teórico sobre a construção de tecnologias de convergência midiáticas e da construção de uma rede de coletivo inteligente com análises profundas sobre os conceitos desses termos.
Neste trabalho foi resumido as idéias passadas no livro, como o autor fala sobre conceitos e tecnologias que atualmente são recorrentes na vida da maioria dos cidadãos, que na época eram apenas suposições de como poderia se desenvolver a tecnologia. Lévy por vezes possui uma visão fantasiosa sobre a formação de uma sociedade com consciência coletiva inteligente, fato que não ocorre devido à diversos fatores sociais, principalmente em um pais subdesenvolvido como o Brasil, onde a exclusão digital bastante discutida. Contudo, através do seu livro “As Tecnologias da Inteligência”, Pierre Lévy se mostra um homem a frente de seu tempo, e sem duvida um dos maiores teóricos da cultura digital, na atualidade.

BIBLIOGRAFIA
LÉVY, Pierre. As tecnologias da Inteligência – O futuro do pensamento na era da informática. São Paulo. Editora 34. Tradução de Carlos Irineu da Costa. 2004