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terça-feira, 27 de julho de 2010

A PERFORMACE DO HÍDRIDO: CORPO, DEFICIÊNCIA E POTENCIALIZAÇÃO

A performance do híbrido : corpo, deficiência, potencializarão os significados culturais atribuídos aos atletas que utilizam cadeiras de rodas produzidas com alta tecnologias para fins competitivos. O autor destaca que essas cadeiras não servem apenas com “veículos” de reparação do movimento, mas também como uma prótese que potencializa seus rendimentos esportivos. Ele emprega a noção de híbrido para problematizar a relação humana/máquina e mostrar como as fronteiras naturais/artificiais, orgânicos/inorgânicos têm sido barradas nesse processo e têm gerado novas identidades culturais.

Nos mostra também que técnica, força, resistência e tecnologia fazem a diferença, visto que só esse conjunto consegue desenvolver algumas habilidades nas pessoas portadoras de necessidades especiais.

E que o processo de subjetivação dos sujeitos contemporâneos tem-se pautado na construção de suas identidades assumidas, contida ou abertamente, a partir de um referente considerado “normal” e as que não se ajustam ao padrão descrito como referências são constituídas como identidades diferentes.

Guacira Louro afirma que “Não há identidade fora do poder” que “todas as identidades fazem parte dos jogos políticos, elas se fazem em meio a relações políticas (1995, p.68).

É difícil negar que, nesta sociedade contemporânea, ainda nos enquadramos em um tipo de identidade a partir de significados atribuídos à nossa aparência corporal. Onde nossos corpos são construídos com o intuito de equipá-los para atualizar, acelerar e dinamizar suas performances. O prolongamento da juventude, o revigoramento físico e a perspectiva de uma vida saudável, são objetivos incansavelmente procurados, mesmo que isso importe em perigosas técnicas de remodelagem física.

Le Breton, afirma que a condição humana é corporal, sendo assim subtrair-lhe parte do corpo ou lhe acrescentar, coloca o sujeito em posição intermediária. E aquele que aspira à humanidade de sua condição em oferecer a ela aparências comuns, por causa de suas deformidades, está destinado a uma existência diferenciada(1995, p. 64).

HALL,Stuart, (2001) chamou de marcas de diferenciação aos cuidados na gestão da aparência.Os portadores de deficiências, os significados que atravessam seus corpos, ainda lhe impõem outras marcas, que de certa forma, os tornam vítimas de suas próprias limitações, pois os motivos que lhes são atribuídos pela sociedade quase sempre são fontes de tristeza e infelicidade, lhes representando como inferiores em relação àqueles que não são portadores de deficiências e isso ocorre desde o século XV onde esse deficientes muitas das vezes foram condenados à morte, pois não se acreditava em suas possibilidades de cura e desenvolvimento.

Esses portadores de necessidades eram tidos com “monstros” e só a partir do século XVI é que às Santas casas recolhiam-nos e davam-lhe abrigo e alimentação.
Como território de múltiplos significados e transgressões, este corpo meio monstro, meio ciborgue, carrega o emblema hegemônico da diferença e desliza contemporaneamente entre as fronteiras de sua materialidade. Um corpo diferente, marcado, ao mesmo tempo, pela deficiência, pela performance e pela tecnologia.

O autor fala suas inquietações sobre essa generalidade do humano, fazendo-o pensar no ideal contemporâneo do corpo que esse corpo contemporâneo revela-se verdadeira máquina de performance e promove rejeições e constrangimentos, principalmente entre aqueles que ainda conseguem resistir à “indústria do design corporal”, termo utilizado por Edvaldo Couto em estudo sobre o movimento chamado de utopia tecnológica do corpo perfeito.

Para COUTO, Edvaldo, esta indústria constrói as “peças” que irão substituir, atualizar e potencializar as partes cansadas, doentes e envelhecidas do corpo (2003, p.177-178).

Essa obsessão contemporânea pelo corpo esbelto, constituiu-se a partir do processo de industrialização da sociedade nos séculos XVIII e XIX, e estabeleceu critérios produtivos na avaliação da estrutura do corpo, “a busca da composição corporal equilibrada estava intimamente ligada ao princípio de retidão do corpo e da rigidez do porte” pois a partir do século XIX, começa a estruturar-se um movimento com base no “convencimento por parte da população da necessidade de pôr o corpo em movimento, como pressuposto fundamental do bem estar completo, favorecendo ao desenvolvimento das aptidões morais necessárias à convivência social.
Como isso os corpos contemporâneos , provavelmente, assumiriam a herança desses corpos retos, ágeis, ajustados em suas posturas, adaptados à aceleração das sociedades de comunicação.Aqueles que de alguma forma resistirem ao que o mercado de reconstrução do corpo, estão marcados por sua exclusão, fragilidade e deficiência.

Nesse lugar de fora, situa-se o corpo cadeirante, anatomia ausente e perturbadora que incorpora uma espécie contemporânea de panóplia.

Novaes, Varlei relata que as performances destes corpos representados hegemonicamente como desqualificados e ineficientes, na medida em que são significados por diferentes situações “naturalizadas”, evidenciam práticas discursivas intensamente atravessadas pela relação híbrida entre o corpo e tecnologia.

Híbridos paraolímpicos, estes atletas ciborgues, possivelmente são, interpelados pelo objeto técnico de tal forma que produzem, e são produzidos por novos sentidos e significados.

A transgressão, nesta perspectiva, assume um caráter potencializador, avançando sobre as fronteiras e os limites que estabelecem as possibilidades plenas de movimentos e ação do atleta, onde a relação que o atleta estabelece com a máquina desenvolve uma espécie de mecanismos transgressor que, oferecendo possibilidades superlativas de movimentação, provavelmente, pode vir a destruir os rudes obstáculos orgânicos impostos por sua limitação e que restringem a priori suas possibilidades e ambições motoras nas rotinas da vida diária.


NOVAES, Varlei, relata nesse ensaio que, durante a performance dos corpos recortados, são mediados de tal forma pela tecnologias que editam a reconstrução potencializada de suas funções na busca pela superação de seus limites. Onde a performance deste corpo híbridos, atletas portadores de deficiências , possivelmente se estabeleça a partir daquilo que chamamos de potencialização.

Bruno Latour (1996), afirma que potencializar o corpo é um antigo desejo humano com a origem no cerne do processo de dominação da natureza, onde o ser humano, no decorrer do processo civilizatório, desenvolve a instrumentalização de seu corpo, garantindo, não só a extensão de seus limites, mas a manutenção da própria existência.
VIRILIO,Paul (1996) afirma que as tecnologias são hoje mais precisas e potentes que o corpo humano, muito mais que nossas frágeis aptidões humanas, o que nos garante novas e urgentes possibilidades de performance. Para esse autor, o processo de potencialização se estabelece a partir do instante em que estendemos as capacidades do corpo, utilizando, especialmente, recursos tecnológicos.

Para ele também as próteses foram e são concebidas como artefatos potencializadore à instrumentalização do corpo, à qual refere Latour, especialmente a do portador de deficiência, devem suceder à interpelação tecnológica. Essa ação performática destes híbridos tem o poder de resignificar a si próprios na tentativa de dilacerar com a banalização e a naturalização duas possibilidades.

Hoje, talvez mais que em outras épocas, é difícil negar que a influência da tecnologia nas sociedades ocidentais tem um lugar capital dentre as questões que emergem como prioritárias nas sociedades modernas.
Vivemos, pois, um momento no qual a robótica, a biotecnologia, e a nanotecnologia redesenham nossa forma corporal.
Seria exagero dizer que a tecnologia invade o corpo portador de deficiência¿

Para a tecnociência, a carne do homem presta-se a estorvos, está a caminho da obsolescência, portanto, a assimilação mecânica, a aditivo tecnológico, ressoa como uma reparação e traduz, na contemporaneidade, o residual digno do que sobrou de sua materialidade biológica. Paula Sibília afirma que a sociedade atual assiste ao surgimento de um novo tipo de saber, saber esse que se pretende controlador da vida, superando até a mais fatal das limitações biológicas: a imortabilidade.

O artista australiano Stelarc, afirma que o corpo precisa ser reposicionado de seus limites genéticos para o mundo eletrônico, devendo tornar-se imortal para se adaptar à tecnociência contemporânea.
“ A informação é a prótese que sustenta o corpo obsoleto” (1997, p,54), onde o autor
Garante que o corpo é uma estrutura nem muito eficiente, nem muito durável.

Vale ressaltar que, desde Descartes, como nos lembra Dominique Bourg, testemunhamos historicamente “a dissociação implícita do homem de seu corpo despojado de valor próprio” ( 1996, p.19). Entretanto, nossa contemporaneidade não pode renunciar a idéia desse corpo, não mais como idealização da carne, espécie de outra pele invisível como pensou Ieda Tucherman (1999), mas de um corpo onde as tecnologias enxertam-se diretamente sobre eles (re) produzindo-o.
O atleta portador de deficiência resignifica seu corpo híbrido, investindo nas possibilidades e apropriações tecnológicas potencializadoras, a partir da necessidade de sobreviver, nem tanto à urgência contemporânea, mas principalmente às rotinas de sua existência.

NOVAES, Varlei finaliza dizendo que as cenas que ilustram este ensaio retratam corpos suprimidos, em momentos de ação e performance, vestidos rigorosamente com próteses tecnológicas que não escondem a monstruosidade de suas aparências.
Decididos e potencializados, o híbrido assume as marcas que o marcam fora das normas e, entre os outros, imprime sua performance, anunciando a consistência maquínica de sua materialidade.
Que esse corpo se constitui através da técnica, mas também pela e através da diferença estabelece marcas de distinção definidoras de sua materialidade, é provável que reconstrua sua subjetividade avançando pelos caminhos da performance, na busca do processo de potencialização como um aditivo.

O texto trás e as cenas que o integram, possibili-nos pensar na prótese, o artefato do corpo-máquina, como elemento da contemporaneidade, de que garante o discurso social da reconquista de uma identidade concebida ao mesmo tempo, como ameaçada e ameaçadora.

Os sinais e falas que recheiam essas cenas e discursos permitem-nos identificar os significados que atravessam esses corpos e as diferentes formas que podem ser atribuídas a eles. Corpo Máquina¿ Híbridos¿ ciborgue¿
Devemos olhar para o corpo do atleta portador de deficiência como um corpo de significados e formas plurais que, interpelado por práticas discursivas, transita pelo território da superação e do limite.


Corpos Mutantes: ensaios sobre novas (d) eficiências corporais/ Organizado por: COUTO, Edvaldo Souza; GORLLNER, Silvana Vilodre – 2ª Ed-Porto alegre: Editora da UFRGS,2009

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